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O Brasil tem uma história marcada por tragédias rodoviárias, mas nenhum acidente envolvendo ônibus foi tão devastador quanto o ocorrido em julho de 1987. Este episódio fatídico, que tirou a vida de 68 pessoas, é considerado o maior acidente rodoviário da história do país. A seguir, relembramos os detalhes desse desastre, analisando o contexto e os fatores que contribuíram para essa tragédia.

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O Contexto da Época

O ano de 1987 foi especialmente difícil para o trânsito em Minas Gerais. Somente no primeiro semestre, o estado registrou 7.635 acidentes de trânsito. O segundo semestre já sinalizava que seria igualmente trágico, com 905 acidentes registrados apenas em julho, resultando em 207 mortes. A combinação de estradas mal conservadas, veículos em condições precárias e imprudência ao volante criou um cenário propício para acidentes graves.

Minas Gerais, com suas estradas sinuosas que cortam montanhas e enfrentam condições adversas, era um estado onde dirigir era um desafio constante. Muitas das estradas, como a BR-040, estavam em más condições, com buracos, desníveis e sinalização inadequada. A imprudência era comum: motoristas ultrapassavam em faixas contínuas, dirigiam na contramão e enfrentavam curvas em alta velocidade.

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A Festa e a Viagem

No domingo, 26 de julho de 1987, a pequena cidade de Moeda, em Minas Gerais, celebrava a Festa de Nossa Senhora de Santana. Cerca de 65 romeiros, residentes no bairro do Barreiro, em Belo Horizonte, participaram do evento. Eles viajaram até Moeda em um ônibus fornecido pela empresa Trans Nazaré, que já tinha uma reputação negativa devido ao estado precário de seus veículos.

O ônibus utilizado na viagem era um Caio Gabriela 2, destinado ao transporte urbano, com uma capacidade para 45 passageiros. No entanto, o ônibus estava transportando 65 pessoas, excedendo sua capacidade e infringindo as regulamentações da época, que proibiam o uso de ônibus urbanos em rodovias para transporte intermunicipal.

O Acidente

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Por volta das 18h30, na BR-040, o motorista do ônibus da Trans Nazaré, que supostamente estava embriagado após participar da festa, perdeu o controle do veículo. Ele invadiu a contramão e colidiu de frente com um ônibus da empresa Trans Munis, que transportava 30 passageiros de uma festa em Diamantina. A força do impacto foi tão grande que o ônibus da Trans Nazaré penetrou cerca de 7 metros dentro do ônibus da Trans Munis.

O acidente resultou na morte de 60 pessoas no local, incluindo três ocupantes de um Voyage que colidiu com a traseira do ônibus da Trans Munis após a colisão inicial. A embriaguez do motorista, a superlotação do ônibus e a falta de manutenção adequada foram apontadas como as principais causas da tragédia.

As Consequências

A tragédia trouxe à tona as falhas no sistema de transporte e na fiscalização das estradas. Dois meses após o acidente, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais suspendeu a licença de operação da Trans Nazaré e de sua empresa afiliada, a Transurb, para investigar as condições de seus veículos. No entanto, 60 dias depois, as empresas retomaram suas operações.

Em março de 1989, a licença da Trans Nazaré foi novamente suspensa devido às condições ruins de seus veículos. Um plebiscito realizado entre os moradores do bairro do Barreiro resultou na decisão de 92% dos votantes de que a empresa não deveria continuar operando na região. Com isso, a Trans Nazaré foi definitivamente fechada e entrou em processo de falência, que permanece sem conclusão até hoje.

O paradeiro dos veículos da Trans Nazaré é em grande parte desconhecido, e as indenizações às vítimas ainda não foram totalmente pagas, perpetuando o sofrimento das famílias envolvidas.

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